quinta-feira, 18 de junho de 2015

Haikai

Chuva na janela
Escorre pela vidraça
Molha o velho sonho.

Maria Julia Guerra
Salvador, abril de 2006.
Licença: Creative Commons.

sábado, 31 de janeiro de 2015

Haikai

Haikai

Orvalho na flor.
Lágrima da madrugada
À espera do sol.



Maria Julia Guerra (Maju Guerra)
Licença: Criative Commons.
Em março de 2010.

domingo, 30 de março de 2014

Do amor


Do amor
Maju Guerra

 
Hoje, com semblante e alma tristonhas,
Me peguei pensando em voz baixa
Sobre o que se ouve vida afora,
Começa na infância,
Palavras e histórias sobre o amor.
Não entendi do amor, hoje percebo,
Não sei bem se soube amar como deve ser.
Descobri que ele se afasta de quem o teme,
O amor não tolera desconfianças.
Amor é sentimento misterioso, caprichoso,
Alça voos e voos em torno de nós,
Desafiador e inconsequente,
Conhece bem o seu poder.
O amor não nos mostra suas mil faces,
Rindo ou sofrendo, quem quiser que as descubra,
Ele costuma nos dar apenas duas escolhas,
Não lhe aprazem os meios-termos.
Vi e revivi cenas coloridas e sem cores da minha vida.
Apesar de tudo, teimosa que sou,
Pretensiosa, até pode ser,
Ainda espero conhecer e desfrutar do amor,
Felicidade é coisa que não se deve abrir mão tão fácil.
Espero e aguardo, quem sabe o amor me encontre,
Goste de mim e se desnude à minha frente?
Quem sabe eu faça a escolha que o agrade,
E livre dos medos, prefira a renúncia sem olhar pra trás?
Véus de sete cores se abrindo
A me mostrar que tudo ainda pode ser.

 
Maria Julia Guerra.
Licença: Creative Commons.
Salvador, janeiro de 2010.

 

terça-feira, 19 de novembro de 2013

O Juramento

O Juramento

Maju Guerra

Outro dia, depois de anos, resolvi fazer um passeio de trem, passeio curto, a bem da verdade. À minha frente estavam sentadas duas mulheres, uma já na casa dos cinquenta anos, a outra com pouco mais de vinte anos. Como falavam alto, foi impossível não escutar a conversa. Descobri que eram mãe e filha vindas de algum hospital. Lá pelas tantas, a filha comentou:
- Mainha, você viu que médico simpático? Gostei, ele nos tratou muito bem. Só fiquei cismada com o que ele disse depois que agradecemos.
E a mãe:
- O que foi que ele disse?
- “Não precisa agradecer, eu cumpro o juramento de Sócrates”. Ele falou Sócrates, não foi? Quem será esse Sócrates?
A mãe assentiu e respondeu:
- Deu vontade de perguntar, mas me encabulei. Também fiquei cismada com o homem do juramento. Me veio na cabeça que seu pai falava muito de um jogador de futebol por nome Sócrates. Ele disse que o homem deixou de jogar e virou médico. Só pode ser isso, ele fez um juramento que está valendo pra todos os médicos tratarem as pessoas bem. Vou até comentar o assunto com o seu pai.
Tudo esclarecido, a filha concordou. Elas mudaram de conversa.
Quanta criatividade, pensei. Na hora me deu vontade de rir e de desfazer o equívoco. Na dúvida, fiquei quieta.
Ri depois que elas saltaram do trem. Não por julgamento, mas pelo inusitado e divertido diálogo. Pus-me a matutar, engano de fácil compreensão: Juramento de Hipócrates com Juramento de Sócrates. Realmente, o ouvido está mais familiarizado com Sócrates do que com Hipócrates, o grego pai da Medicina que vivera antes de Cristo. Conheci mais de um Sócrates, mas nenhum Hipócrates, creio que por uma questão de sonoridade mesmo. Como ambos foram gregos famosos, um filósofo e um médico, estava tudo no lugar, geograficamente falando. A criatividade humana com certeza é admirável.
 
 
Maria Julia Guerra
Licença: Creative Commons
Salvador, outubro de 2010

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

A dor da ausência

A dor da ausência Maju Guerra

Há seis meses ele se fora, havia deixado apenas o cheiro da sua ausência. À noitinha, quando voltava do trabalho, ela já se acostumara ao silêncio entranhado pelos cantos da casa. Dormia ao som da caixinha de música, companheira da infância, aconchego do tempo em que se sabia amada. As lembranças e a bailarina, dando voltas sem chegar a lugar algum, acabavam por lhe trazer o sono sem memórias. Naquela noite, ao abrir o portão, deparou-se com a luz na sala. Cheia de receios, o desconhecido assusta, abriu a porta com cautela. Ele, sentado no sofá, sorria com as mãos estendidas para ela. Ela aceitou suas mãos e seu retorno, não lhe fez perguntas. Agiu como sempre agira antes da sua partida. Decidiu curar as feridas com a presença dele. Depois, depois seria somente depois... Sem dores, compreenderia melhor o que acontecera, aceitaria sua parcela de culpa na separação. Com toda a certeza, o perdão haveria de preencher cada pedaço vazio dentro dela.


Maria Julia Guerra
Licença: Creative Commons

quarta-feira, 7 de março de 2012

Chegaste tarde

Chegaste tarde
Maju Guerra

Chegaste muito tarde em minha vida.
O abandono me fez desilusão,
Legado final da fria partida,
Último amor, derradeira emoção.

Quando vieste o luar cobriu a flor
De prata luzida, não disse não
À clara magia da sedução,
O amor poderia afastar a dor.

O silêncio em torno me revelou
O quanto era inútil a decisão,
Condenada estava, sozinha estou.

Chegaste tão tarde, o tempo passou,
A mágoa levou de mim a razão,
Caminho nas marcas do que restou.


Maria Julia Guerra.
Licença: Creative Commons.
Salvador, junho de 2007.

sábado, 24 de abril de 2010

Disfarço bem

Disfarço bem
Maju Guerra

Dentro de mim
Vive um cavalo bravo
Galopando por pântanos
E descampados
Sem amarras.
Dentro de mim
Passa um rio revolto
A se jogar pelas pedras
Formando cascatas.
E eu aqui sentada
Distante e contida
Conversando educada...
Ninguém percebe
A fogueira acesa
Ardendo todo o tempo
Dentro de mim.
Às vezes me distraio,
Chega a incomodar.
Ninguém percebe,
Disfarço bem.


Maria Julia Guerra.
Licença: Creative Commons.